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O Caderno Maldito - ABO

  • autorwudsonjr
  • 9 de jan. de 2024
  • 21 min de leitura

Atualizado: 25 de jul. de 2024


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O diário maldito

Conto único


O recesso havia acabado e a rotina havia voltado ao normal, o que significava acordar cedo, tomar banho, tomar café, escovar os dentes, pegar ônibus... e ir para a escola. No primeiro dia de volta às aulas, Aiden acordou cedo e fez questão de ser o primeiro a estar em sua parada à espera do ônibus. Sentia suas orelhas coçarem em animação do mesmo modo em que não conseguia conter seus dedos de balançarem para lá e para cá conforme o vento soprava naquela manhã enevoada.

O clima em sua cidade era estranho, uma hora fazia um sol medonho e cinco minutos depois poderia estar caindo uma chuva endiabrada, ou então o céu ficava nublado por dias, contudo, sem o ruído de uma gota sequer.

Quando desceu do ônibus, por exemplo, o clima já estava quente e radiante, iluminando o estacionamento cheio de carros molhados pela neblina da alvorada. O ômega tirou seu casaco de frio, guardou-o na bolsa e catou seus óculos redondos, seguindo o fluxo da multidão de alunos em direção a entrada.

“Mais um ano”, pensou quando olhou o letreiro da escola e suspirou, “o último ano”.

De abrupto, foi empurrado para frente com força e quase tropeçou sobre os próprios pés, mas seu sexto sentido animalesco não o permitiu tal coisa.

— Olha por onde anda! — um beta estressado resmungou, certamente infeliz por estar voltando. 

Aiden passou a mão pelos cabelos e suspirou incapaz de se controlar.

— Vai se ferrar, Dilan! — gritou, contando até dez antes de voltar a caminhar calmamente pelos corredores iluminados da escola.

Era um ômega bastante estressado, mas só com quem procurava, claro.

Não lembrava a localização exata de seu armário, então seguiu a mesma ômega loirinha como em todos os anos anteriores. Seu armário ficava ao lado do dela, o que era uma coisa maravilhosa. Havia feito questão de decorar os horários em que ela chegava e saía, assim poderia acompanhá-la sem problema algum.

Tudo bem, ele poderia apenas decorar onde seu armário ficava, mas onde estaria a graça?

Não esqueceu de desejá-la um bom dia antes de abri-lo e guardar algumas coisas. Seu casaco não o seria mais útil naquela manhã, contudo, havia uma coisa que nunca iria deixar de lado, nem mesmo por um segundo. Essa coisa possuía capa, brochura e linhas rabiscadas à mão: um caderno que mais parecia um diário, antes de qualquer outra coisa. Era um verdadeiro mistério, pois não havia uma única alma penada que não desejasse ler o que o ômega tanto escrevia.

A curiosidade era tanta que havia chegado ao ponto em que alguns alfas passados tiveram a brilhante ideia de arrombar seu armário, apenas para descobrirem que o ômega nunca saía sem seu caderninho. Nunca. Entretanto, houve um que nunca chegou a pensar em desistir. Ele fazia parte do bando que tentou “sequestrar” o caderno e que levou duas semanas de detenção como consequência, seu nome era Park Cedrico, que naquele momento tentava chegar de fininho, aproveitando que Aiden estava concentrado em pegar alguns livros no armário.

— Bom dia, flor do dia! — cumprimentou, ouvindo o barulho seco de uma batida seguida de um suspiro surpreso.

Atrás da porta metálica, Aiden havia se assustado e batido a cabeça no teto do armário. Por mais irritado que fosse, odiava sentir dor ou surpresa, principalmente quando quem o assustava era o alfa do Clube de Corrida com Obstáculos. Achava aquele gato miado um exibido, um idiota pomposo que gostava de usar jaqueta de couro e calças jeans só para chamar a atenção dos demais.

O ômega fechou a porta com força e virou-se em direção a ele com uma carranca. 

— O que você quer, Cedrico? — indagou, pondo as mãos na cintura. — Não está cedo demais para suas gracinhas, não?

— Que gracinhas? — sorriu aproximando-se mais dois passos sorrateiros.

— As gracinhas que você apronta antes de seu namorado chegar — respondeu astuto, afastando-se três passos para trás. Estava falando do namorado que já havia chegado, na verdade, mas que talvez estivesse perdido em algum lugar. — Tenha um péssimo dia, perdedor.

Fez um sinal de “L” na testa e deu as costas, caminhando em direção a sala onde teria sua primeira aula. Seu cronograma era certeiro e gostava de ser o primeiro a entrar, assim poderia escolher sua cadeira com tranquilidade. Entrou resmungando alguma coisa sobre os cabelos pretos de Cedrico estarem uma porcaria e como a cara de tacho que ele havia feito ao ser rejeitado pela milésima vez havia sido hilária.

Não gostava do alfa, mas gostava de rir dele.

Gostava de sentar na fileira das últimas cadeiras como sempre, mas ao olhar em direção a elas, percebeu que seu lugar favorito já havia sido ocupado, e reconhecia aquela bolsa com estampa de raios de longe, assim como aqueles bottoms estranhos que o idiota havia usado para decorá-la.

— Acho que você vai ter que sentar na certeira ao lado... — o dono da mochila apareceu ao seu lado de braços cruzados.

Parecia ainda mais convencido, com os olhos ávidos observando o ômega de orelhas avessas e bochechas vermelhas em ódio latente.

— Tire sua bolsa de lá, Cedrico! — ordenou com o rosto quente.

— Não. Arranje outra cadeira para você, Aiden — riu, escorando-se na parede bem ao lado do assento.

— Você nem gosta de sentar aí, só quer fazer birra! — já estava começando a se estressar.

O ômega largou sua bolsa no chão e foi pisando forte em direção a carteira ocupada por seu inimigo, tinha o objetivo de pegar aquela mochila horrorosa e jogá-la no lixo, contudo, antes mesmo de conseguir sequer pegá-la, sentiu um aperto em seu pulso seguido de um puxão mavioso pela cintura e soltou um gritinho assustado, prendendo a respiração ao ficar face a face com o alfa de olhos castanhos.

— O que está fazendo? — Aiden sufocou um grito e acertou um soco fraco em seu ombro, porém forte o suficiente para fazer o outro rir.

— Você não iria gostar da minha reação, caso fizesse o que pretendia fazer... — o alfa sussurrou rente ao seu rosto, apertando um pouco mais o aperto em sua cintura. — Vejo que chegou um pouco mais arisco das férias. Achei que viria melhor, Cedric.

— Pare de me chamar assim! — o garoto chiou, cravando as unhas em seus ombros. — Odeio quando você me chama de Cedric.

— Sei disso, mas eu gosto — Cedrico contestou, inclinando-se um pouco para esfregar a ponta do nariz no pescoço macio do ômega. — Está de perfume novo, Cedric?

Aiden odiava as vezes em que Cedrico ousava se aproximar daquela maneira tão íntima. Já havia percebido, de qualquer forma, que o alfa era uma pessoa que gostava de estar perto, de tocá-lo e cheirá-lo o tempo inteiro... Não era a primeira vez que uma cena como aquela acontecia.

No primeiro ano, logo quando se conheceram, o alfa inventou de se aproximar daquela maneira e acabou levando uma joelhada certeira no saco. Aquilo não havia o impedido de tentar mais vezes e, mesmo sem querer, acabou criando uma espécie de animadversidade entre os dois. Aiden já não se importava mais com os toques sugestivos — ambos já tinham intimidade suficiente para isso —, mas parecia que do mesmo jeito que o tempo havia mudado, seu humor também havia acompanhado a mudança naquele dia.

Nas férias de verão do ano passado, haviam se encontrado numa festa de universidade e acabaram ficando em um dos banheiros do primeiro andar. Ficaram por horas à fio sem descanso entre beijos molhados e respirações entrecortadas por suspiros luxuriosos. Nessa mesma festa, quase no finalzinho, Aiden descobriu que Cedrico era o famoso namorado de seu outro inimigo — o mais antigo — Taeyhung, o beta mais ignorante da sala.

E foi então que a inimizade teve início.

— Sinto saudades desse pescoço, Aiden... — Cedrico sussurrou, mordendo o lóbulo de sua orelha com volúpia.

Desejou fazer aquilo durante todo o recesso, chegou até a sonhar com cenas semelhantes em certas noites de calor em seu quarto solitário. Dilan estava viajando com os pais, logo não havia tido nada além de suas mãos para satisfazer-se pateticamente.

— É uma pena, não é mesmo? — desdenhou, revirando os olhos. 

O ômega afastou-o com um simples empurrão e deu as costas para apanhar a bolsa de sua carteira e jogá-la em outra qualquer. Quando se virou novamente, Cedrico segurava a sua com um sorrisinho no canto dos lábios.

— Tudo bem, eu permito você sentar nessa cadeira... — murmurou.

Aiden arqueou as sobrancelhas em dúvida e cerrou os olhos, estava desconfiando de sua atitude suspeita — geralmente, ele nunca cedia tão fácil assim —, mas acabou dando de ombros e concordou, pegando-a rapidamente para sentar-se em seguida.

Não notou, por exemplo, que seu caderno precioso já não estava mais junto de seus livros.

[...]

Assim que a aula começou, Aiden caçou seu diário por entre a bagunça em sua bolsa e começou a tremer quando percebeu seu sumiço. Passou a procurar com ambas as mãos, quase entrando na bolsa e se desesperou mais ainda quando teve certeza de que havia, sim, desaparecido.

Olhou ao redor com os olhos arregalados e puxou uma respiração profunda que logo foi interrompida por um risinho abafado ao seu lado.

— “E eles foderam felizes para sempre...” — Cedrico sussurrou com os olhos brilhantes.

O ômega observou-o por completo, desde seus cabelos bagunçados, o sorriso irônico no rosto, dos ombros erguidos até o pequeno caderno de couro em suas mãos. O seu diário.

— O que você está fazendo? — sussurrou com raiva, estendo a mão para tentar alcançar sua posse. — Me devolva agora!

— “E foderam mais uma vez...” — Cedrico gargalhou, engrossando um pouco mais a voz para narrar o que lia. — Você é talentoso, Cedric. Gostei de ler o que escreveu até agora. Não acredito que sou a primeira pessoa a ler o diário mais secreto que o próprio segredo, é emocionante!

— Você é um crápula, Cedrico! — gritou, levantando-se da cadeira com violência.

O barulho do ranger de sua cadeira somado ao seu grito assustou a sala inteira, que passou a observar a cena como se fosse uma espécie de show. Alguns acharam graça quando viram o ômega avançando em Cedrico com um grito brutal, agarrando em seus cabelos com raiva, outros acharam aquilo um ato desrespeitoso, pois onde um ômega faria uma coisa como aquela à um alfa... Ainda mais quando era um alfa tão poderoso e forte quanto aquele.

De longe, Dilan observava tudo de braços cruzados. Tinha uma careta desgostosa no rosto, contudo, não iria interferir naquela briga que já durava anos.

O professor interferiu com um brado rotineiro de fúria, chamando a atenção de ambos para expulsá-los da sala. Isso acontecia mais vezes do que podia contar nos dedos.

Já no corredor à caminho da diretoria, Cedrico ainda insistia em manter o caderninho em mãos. Levantava-o o mais alto que podia e tentava não rir — ou chorar — quando Aiden pulava ao seu redor ou arranhava-o sem dó, nem piedade. Estavam naquele jogo de gato e rato há tanto tempo que já nem notavam o quão próximos ficavam daquele jeito.

— Larga isso, imbecil! — o ômega resmungou, puxando seus cabelos em mais uma tentativa de alcançar seu diário.

— Você escreve histórias eróticas sobre alunos aleatórios da escola? — o outro perguntou, chiando com mais um puxão violento nos cabelos de sua nuca. — Que inusitado!

— Você vai ver, eu vou contar para o reitor e... — Aiden estava pronto para xingá-lo de todas as palavras feias possíveis, mas calou-se assim que o alfa caiu de joelhos no chão e soltou um rosnado que fez seu corpo inteiro tremer. — Cedrico? 

— Não, não, não... — escutou-o sussurrar entredentes, com a voz mais grossa e rígida.

— O que está acontecendo? — ficou de joelhos, pondo a mão hesitante nos ombros duros do alfa.

Ele estava tremendo.

— Não me toque! — Cedrico gritou.

Um grito tão potente que Aiden se arrastou para longe com os olhos arregalados. A voz de um alfa era potente e raivosa, animalesca o suficiente para fazê-lo perder toda sua bravata ensaiada, então limitou-se a observar receoso quando seu inimigo levantou o rosto para olhá-lo de longe, assustando-o ao mostrar seus olhos escuros.

Respirou fundo e quase gemeu ao sentir o cheiro concentrado que ele exalava.

— Cedrico... Você está no cio?

Cedrico deu-o as costas e saiu correndo em direção a saída mais próxima, sumindo de sua vista, contudo, só pôde respirar direito quando aquele cheiro forte dispersou completamente. Ele poderia apenas seguir direto para a diretoria e avisar os responsáveis que havia um alfa entrando em cio naquele exato momento, mas havia um porém... Ele ainda estava com seu diário em mãos.

E Aiden não suportaria ver mais ninguém tocando em seu bem mais precioso.

[...]

— Não, não, não, não, não... — Cedrico rosnava entredentes enquanto catava as correntes do porão do Clube de Corrida com Obstáculos.

Estava suando e tremendo, incapaz sequer de pensar em algo que o fizesse se acalmar diante da explosão de hormônios latente em seu âmago, fazendo suas entraras revirarem em fisgadas de dor e desespero. Sentia um calor alucinante dominando sua barriga, espalhando-se por suas veias em todas as direções de seu corpo. Parecia que estava culminando em direção a uma explosão.

— Não agora... — chiou.

Com rapidez, prendeu as correntes em cada extremidade do porão, certificando-se de que nenhuma ponta iria ceder caso puxasse com muita força, então começou a se acorrentar avidamente, rosnando à cada pontada nova e dolorosa em seu abdômen. Antes de prender a corrente no tornozelo esquerdo, sentiu-se sufocado por sua blusa e rasgou-a com apenas um puxão raivoso, livrando-se do tecido confinador.

Assim que escutou o click ruidoso da corrente em seu tornozelo, debruçou-se para agarrar a última que faltava na direita, contudo, antes que conseguisse alcançá-la, uma forte onda de espasmos o derrubou de joelhos no chão. Cedrico segurou seu membro imprensado contra o jeans da calça e mordeu o lábio, pegando a corrente e prendendo, finalmente, seu último pulso livre.

— Assim está melhor... — resfolegou.

Nunca pensou que chegaria ao ponto de se acorrentar por medo de perder o controle total de suas ações, nunca havia chegado àquele ponto tão extremo e sabia que devia ter aproveitado mais seu último cio, assim não teria tanto desejo acumulado. Por ser alfa, seus sentidos eram mil vezes mais aguçados, e o mesmo valia para seus desejos carnais. Sua fome por sexo era ainda maior e mais agressiva que o normal, tão violenta que havia feito-o acorrentar-se desesperado.

E mesmo com sua libido espumando por seus poros não ousaria desabotoar sua calça, pois tinha total noção de que não conseguiria parar caso começasse a se tocar como tanto desejava. Sabia, também, que não haveria corrente alguma que o impedisse de sair daquele porão em busca de alguém para saciá-lo até aquele calor desaparecer por completo.

Então:

— Eu não posso... — sua voz saia quase estrangulada de sua garganta. — ...Me tocar!

Gritou mais uma vez, arqueando as costas ao sentir duas pontadas certeiras em sua virilha, afiadas como adagas. Mordeu o lábio e tentou conter mais um grito gutural, dilatando as veias salientes de seu pescoço, deixando seu rosto um tom mais vermelho e irritado.

Ao mesmo tempo em que Cedrico tentava não enlouquecer naquela sala subterrânea e escura, Aiden tentava não chorar após bater seu polegar numa das barras metálicas dispostas quase no final da pista de corrida. Estava indo rumo à mesma sala em que sabia que o alfa estava, mesmo que não estivesse percebendo que o que o atraía não era seu desejo pela recuperação de seu diário, mas sim pelo cheiro que emanava forte por ali, conquistando seus sentidos de uma maneira implícita e sorrateira.

Por exemplo, andava de punhos cerrados, mas não tinha consciência de que o motivo era pelo prazer que estava sentindo com aquele cheiro gostoso no ar. Em sua mente, estava cerrando-os por ódio e indignação.

— Aquele babaca... — resmungou, adentrando a sala em direção as escadas que levavam para o porão. — Achando que pode levar minhas coisas assim...

Estava determinado a recuperar o que o pertencia, entretanto, parou abruptamente ao ouvir um grito gutural reverberando pela porta, fazendo-a tremer. O grito de um alfa era capaz de amedrontar qualquer ômega, quando soado com fúria, mas aquele grito não transmitia raiva, nem mesmo ódio..., transmitia dor.

— Cedrico...? — o ômega sussurrou com a mão tapando a boca em surpresa, pois nunca havia ouvido nada parecido como aquilo.

Soava desesperado.

Em sua cabeça, pensava que estava caminhando até aquela porta com a intenção de saber o que estava acontecendo, mas a verdade é que já havia parado de pensar com a cabeça já havia bastante tempo. Naquela hora, seu corpo era quem comandava... E estava ordenando-o a entrar naquela sala da maneira mais sublime possível.

Com os dedos trêmulos, o ômega abriu a porta — que Cedrico, na pressa, havia esquecido de trancar — e adentrou a sala lentamente, mal se importando quando a porta fechou atrás de si, isolando-o naquela atmosfera deliciosa. De boca aberta, observou a figura de Cedrico sem camisa, de joelhos no chão, completamente vermelho e suado, engolindo em seco ao perceber o peito do alfa subir e descer rapidamente, entregando sua euforia naquele momento.

— Aiden... — Cedrico gemeu dolorido, arrastando-se para longe ao perceber o ômega encolhido contra a porta, de olhos arregalados. —... O que está fazendo aqui? Saia!

— O que está acontecendo? — ele perguntou baixinho.

Nunca havia passado por algo parecido, nem mesmo visualizado. Havia suportado todos os seus cios em seu quarto, com a ajuda de medicamentos e brinquedos divertidos, mas nunca... Nunca havia pensado que veria algo assim.

Nunca havia pensado que veria um alfa de olhar e corpo tão desesperado ao olhá-lo, nem mesmo que aquele alfa fosse ser seu inimigo mortal.

Ele estava maravilhado.

— Saia daqui, Aiden... — Cedrico pediu rapidamente, reprimindo um rosnado bestial assim que começou a sentir a mescla de seu cheiro com o cheiro acentuado e adocicado que o ômega estava exalando. — Eu... Eu não quero te machucar...

Silenciosamente, Aiden caminhou em direção ao alfa — que tentou se afastar o máximo que pode e acabou sendo encurralado contra a parede — até parar diante dele e se ajoelhar. Possuía os olhos brilhantes de curiosidade e atrevimento, cego por seus sentidos dominantes e desejosos. Naquele momento, tudo o que queria era tocar a pequena gota de suor que escorria pelo peito musculoso de Cedrico, capturá-la e prová-la com a ponta da língua.

Queria saber que gosto tinha, queria provar do gosto do desejo incontido de um alfa poderoso.

— Você entrou no cio, Cedrico... — Aiden mordeu o lábio, sentindo as pontas de seus dedos esquentando na mesma proporção em que sua libido.

Avassaladoramente.

— Saia daqui, Aiden... — o alfa choramingou, retesando seu corpo por completo e fechando a mandíbula ao sentir uma nova onda de espasmos de calor. — Arg! Por favor!

— Mas... — o ômega balbuciou, piscando rapidamente. — Cedrico, você... Você está com dor e...

— Eu já passei por isso, não se preocupe — mentiu. — Agora saia!

Naquele momento, ambos estavam quase sucumbindo aos desejos carnais por completo. Aiden era incapaz de conter sua curiosidade e o calor que subia e emanava de seu corpo clamante pelo do alfa, que também estava no abismo de seu autocontrole. Estava quase chorando de desejo pelo ômega de olhos brilhantes e pele macia, pois sabia que mesmo que ele não tivesse aparecido no porão naquele momento, ele seria a primeira pessoa a quem imploraria assim que conseguisse se livrar daquelas correntes dolorosas.

Em sua mente, apenas Aiden poderia saciá-lo.

E na mente de Aiden, apenas Cedrico poderia matar sua curiosidade.

— Eu não vou conseguir me controlar... — Cedrico gemeu, fechando os olhos com força. Sentia sua sanidade esvaindo a cada respiração acelerada que abandonava seus lábios. — Eu não quero machucá-lo, Aiden...

— Você quer me machucar? — ele foi rápido em questionar, sentando-se de pernas cruzadas diante de seu corpo trêmulo e encolhido.

— Não, eu... 

— Então não há motivo para preocupação — Aiden o interrompeu, engolindo em seco ao se aproximar um pouco mais. — Eu... Eu posso..., hm... Te tocar?

Cedrico rosnou fechando os olhos, e quando os abriu já não estavam mais da cor castanha escura, mas sim tingidos num vermelho escarlate vivo e desnorteador. O ômega sentiu-se zonzo ao constatar o quão afetado havia ficado ao perceber que o alfa de Cedrico havia o dominado por completo.

— Não me liberte das correntes — avisou com a voz grossa.

Timidamente, Aiden concordou e esticou a mão para tocar seu peito quente e suado, mordendo o lábio ao notar seus músculos ficarem rígidos e depois relaxarem diante de seu toque inofensivo, quase aventureiro. Com a ponta do indicador, traçou uma linha invisível desde o centro do peitoral até um pouco acima de seu umbigo, descendo pela mesma linha que dividia seu abdômen definido. Não queria soar precipitado, mas sabia que não conseguiria controlar suas mãos espertas quando Cedrico fazia questão de gemer à cada centímetro desbravado de sua pele.

Ansiava por aquele toque como o Inferno.

Com calma, Aiden ficou sobre seus joelhos e pôs sua mão livre sobre o ombro duro do alfa, soltando uma respiração profunda e apreciativa ao vê-lo fechando os olhos e aproveitando o carinho. Queria tocar cada canto daquele corpo gostoso e brilhante de suor, pelo menos em sua mente isso era possível, mas assim que ousou e aproximou-se um pouquinho mais, foi surpreendido por um puxão brusco em sua cintura, arrastando-o pera o colo de Cedrico.

O alfa rosnou e arrancou sua blusa com avidez, afundando o rosto na curva nostálgica de seu pescoço, lambendo, chupando, tudo isso enquanto apertava-o entre seus braços musculosos e ainda mais fortes pela dominação de seu alfa interior. Ter Aiden daquele jeito... Gemendo seu nome com os braços ao redor de seu pescoço parecia a oitava maravilha do mundo, era incapaz de conter seu atos quando tinha ali, em suas mãos.

— Você é tão gostoso... — Cedrico gemeu, lambendo o ombro trêmulo do ômega que apenas fechou os olhos e permitiu-se aproveitar todas aquelas sensações.

As correntes rangeram quando o alfa se inclinou para deitar Aiden no chão e ficar por cima, com as mãos dispostas em cada lado de seu rosto. Surpreso, o ômega envolveu seu quadril com suas pernas e mordeu o lábio para impedir um gemido ao sentir o membro duro de Cedrico sendo esfregado contra sua bunda ainda por baixo de todos aqueles jeans.

Era indignante.

— Eu vou te foder gostoso... — Cedrico lambeu os lábios, recebendo mais duas pontadas em sua virilha ao ver o sorriso animado nos lábios de seu parceiro. — Até você não conseguir mais nem sentar, Cedric...

— Oh... — o ômega gemeu, sentindo uma pontada em seu estômago ao escutar aquela voz soar tão grossa e sugestiva, silabando seu apelido como uma espécie de louvor.

Aiden ficou maravilhado ao ver que, ainda que algemado, Cedrico retirou suas calças com maestria e um sorriso convencido nos lábios. Depois, ainda de joelhos entre suas pernas, desceu a mão pelo abdômen suado até agarrar seu membro pulsante coberto pela cueca branca. Com uma risadinha pomposa, o alfa começou a se apalpar descaradamente em sua frente, soltando um assobio apreciativo com a sensação gostosa.

Incapaz de esperar por mais, o ômega também ficou de joelhos e se aproximou até ter os lábios quentes de Cedrico contra os seus, gemendo ao ouvir o rosnado necessitado do outro. Sorriu quando voltou a sentir aquelas grandes mãos em sua cintura, puxando-o para mais perto, colando seus torços desnudos e suados.

— Você está tão quentinho, Aiden — Cedrico sussurrou antes de morder seu lábio, curvando-se para começar a apalpar aquela bunda durinha. — Eu vou meter meu pau nessa bundinha até você esquecer seu próprio nome...

— Porra... — o outro resfolegou, cravando as unhas em seu ombro para voltar a beijá-lo com volúpia.

Pondo as mãos no peitoral torneado de Cedrico, Aiden o empurrou até tê-lo sentado diante de si, depois fez o mesmo que pensou em fazer naquela fatídica calourada em que haviam ficado pela última vez: lambeu a pele de seu peito, descendo por seu abdômen contraído até ter os lábios roçando no cos de sua cueca.

— Já tá querendo mamar, é? — Cedrico sorriu, tremendo ao ver o ômega safado concordar com o cos da cueca entre os dentes e os olhos brilhantes em sua direção. — Porra, Aiden, não me olhe assim...

Mas ele olhou, insistiu em olhá-lo com aquela intensidade para tentar mostra-lo todo o desejo que estava sentindo. Concentrado, desceu a cueca com calma, expondo cada centímetro daquele membro duro antes de abocanhá-lo exatamente como havia visto uma vez em uma das noites solitárias em que sentia vontade de pesquisar sobre coisas que o davam prazer. Aquilo era uma delas.

Cedrico sorriu, levando uma das mãos algemadas até o rosto de Aiden, tocando sua bochecha cheia com o indicador. Era interessante sentir seu membro daquela maneira. O alfa quase não conseguiu se manter firme quando teve a base seu membro apertada gentilmente, mas na pressão certa, revirando os olhos com o calor da sensação.

— Só a cabecinha... Isso... — ronronou, agarrando seus cabelos macios em seu punho cerrado. — Bom garoto, isso... Igual um picolé.

Aiden sorriu e engoliu-o por inteiro, arrancando um gemido longo e prazeroso do outro.

Domado pelo desejo, Cedrico removeu a cueca de Aiden com destreza, suspendendo-o no ar com facilidade para colocá-lo de quatro diante de si, então tratou de dá-lo o melhor beijo de todos em seu ponto mais sensível, já brilhante de sua própria lubrificação natural. Às vezes, Aiden se encolhia inteiro com as mordidas, outras apenas era incapaz de se manter e caía com o rosto sobre as mãos no chão, entretanto, nunca deixando de empinar sua bunda para ele. Aquilo não era uma opção.

— Você gosta de me deixar louco, não é mesmo? — o alfa perguntou sem fôlego, a verdade era que mal conseguia pensar direito. — Desde aquela maldita festa.

— Você era um idiota... — Aiden gemeu, revirando os olhos quando voltou a ser penetrado pelos dedos melados do outro. — ...Mereceu meu desprezo.

— E agora...? — Cedrico soltou um risinho rouco, raspando seu membro lambuzado de saliva em sua entradinha. —... O que eu mereço?

O ômega ia respondê-lo, entretanto sua boca abriu em surpresa e fascínio quando Cedrico penetrou-o lentamente, soltando um chiado prazeroso até estar completamente dentro. Com um sorriso maravilhado, o alfa segurou a bunda empinada para si e moveu-se lentamente, tremendo ao ver sua reação de prazer: as bochechas vermelhas, os olhos lacrimejantes e a boca aberta.

— Não vai falar nada? — desafiou pomposamente com as sobrancelhas arqueadas.

Aiden revirou os olhos, insano pelos feromônios que o alfa exalava. Um cheiro forte, másculo e totalmente dominante, era quase impossível não sucumbir.

— Tá mordendo a língua, né safado? — voltou a perguntar com a voz ofegante, gemendo rouco ao ver Aiden concordar com um balançar desesperado de cabeça. 

Ambos não sabiam o que sentir, estavam tomados pelo desejo cego e vertiginoso de seus instintos animalescos, surdos pelo barulho de seus próprios gemidos arrastados de luxúria. Cedrico, à certo ponto, havia agarrado-o pela cintura em seus braços, o jogado contra a parede e metido sem dó por incontáveis vezes, sorrindo fascinado pelos barulhos deliciosos que saiam de sua boca, pelos olhares brilhantes que o eram direcionado... Fascinado por aquele ômega safado e irritado. Aiden sentia o mesmo, domado por seu cheiro gostoso, pelo modo como ele sorria e gemia seu nome rouquinho contra seu ouvido, mordia seu pescoço e depois segurava-o pelo queixo, estocando o mais fundo possível e o levando às nuvens.

— Cedrico... — choramingou, explodindo em jatos de felicidade, euforia e prazer.

O alfa o acompanhou logo em seguida, fazendo Aiden gritar assim que atou o nó, pressionando os dentes contra seu ombro no momento em que ambos não sabiam mais nem os próprios nomes. 

— Não me desalgeme — Cedrico ordenou, afastando-se lentamente depois de um tempo. — Não sei do que sou capaz quando solto nesse estado.

Aiden concordou, tocando no metal brilhante das correntes com os olhinhos curiosos. Estava sentado no colo do alfa, de repente entretido pelos pelinhos quase inexistentes em seu peito definido.

— Eu quero aquele bottom do Voltron que você tem na bolsa — explicou sua única condição, desenhando um “J” em seu abdômen suado.

Cedrico riu.

— É sério que você está me chantageando? 

— Sim! — sorriu brilhante, mordendo o lábio assim que sentiu algo duro cutucando sua bunda. — De novo?

Cedrico concordou com uma expressão safada no rosto, maravilhado pelo risinho bobo com que o ômega o respondeu. Continuaram assim até o raiar do sol, por horas seguidas, e quando a noite chegou tiveram que pular o muro da escola — com Cedrico ainda algemado para a proteção de todos — em direção a casa do alfa, a mais próxima dos dois.

Ambos estavam eufóricos com tudo o que havia ocorrido, mas Aiden estava incomodado com uma pequena dorzinha que latejava em seu ombro.

— Ai, que coisa estranha! — exclamou, arrastando Cedrico para um beco mal iluminado. O alfa apenas o seguia, preocupado demais em controlar seu desejo do que qualquer outra coisa. — Vê o que tem no meu ombro, idiota!

O garoto puxou a gola da blusa para baixo, revelando um pouco da pele de seu ombro e o alfa arregalou os olhos ao ver a marca de duas presas reluzentes. Uma marca de ligação. Rosnou ao vê-la daquela maneira ainda recente e quase pôde sentir o gosto que provou ao fazê-la naquele porão confinante. Havia o marcado e nenhum dos dois havia percebido.

Cedrico se inclinou e lambeu a região, provando do gosto salgado do suor do outro, e gemeu quase incapaz de se conter.

— E então? — escutou-o perguntar, contudo, já era tarde demais.

Livrou-se das correntes com apenas um puxão bruto e envolveu o corpinho do ômega com ambas as mãos rapidamente.

— Eu quero você aqui, bebê... Fica de costas pra mim, vai? — sussurrou contra seu ouvido.

— Mas... — Aiden ainda tentou recusar, porém sentiu um calor em seu pescoço descendo por seu abdômen, até chegar e fisgar em sua virilha. — Oh!

Estavam ao ar livre, em uma região onde poderiam ser pegos à qualquer instante, todavia não pareciam estar ligando muito para tal fato... Quando Cedrico pôs Aiden de quatro no asfalto úmido pelo sereno noturno e penetrou-o lentamente, chiando ao sentir aquele calor e aquele sentimento de pertencimento acolhedor, nenhum dos dois se importou em lembrar que barulhos demais atraiam atenção demais.

— Faz menos barulho, porra! — Aiden resmungou, soltando um gemido longo quando o alfa agarrou seus cabelos e voltou a beijar e morder seu ombro esquerdo. — Nós podemos ser presos!

Ele sabia o porquê de toda aquela adoração desesperada justamente naquela região de seu corpo e não se importava nenhum pouco. Daria mil socos na cara de seu inimigo quando não estivesse tão afetado pelo prazer.

— Eu vou ficar muito feliz comendo essa bundinha numa cela de prisão — Cedrico riu rouco, puxando-o para mais um beijo afoito e completamente lambuzado.

Os dois riram.

E depois minutos após isso, foram pegos por um policial baixinho e bigodudo. Ele gritou “parados”, apontando a luz de uma lanterna em direção ao casal incrédulo e disse:

— Vocês têm o direito de ficarem calados!

Eu vou te matar... — Aiden sussurrou entredentes para Cedrico já vestido, sendo algemado diante de uma viatura.

— O pior é que eu ainda tô com um tesão de matar mesmo! — o alfa sussurrou contra seu ouvido, sendo empurrado com brutalidade para dentro da viatura assim que o ômega também o fez.

— Eu te odeio.

— Acho que estramos em cana, Cedric.

O policial ainda teve que parar o carro umas duas vezes para intervir nas tentativas de Aiden de matar seu inimigo mortal e quase bateu contra um poste umas cinco vezes com os gritos de ódio que o ômega soltava a cada piadinha idiota que Cedrico fazia questão de contar, principalmente as que envolviam seu membro pulsante sufocando em sua calça.

— Eu sou muito burro mesmo — Aiden resmungou de braços cruzados, finalmente deixando-se ser envolvido pelo braço forte de seu alfa com indignação e, por mais que odiasse admitir, animação. — Eu esqueci meu diário naquela porra de porão, grr!

— Não se preocupa, Cedric — Cedrico tentou prender o riso, mas acabou caindo em uma gargalhada desastrosa. — Você vai ter bastante conto erótico para escrever sobre nós na cadeia.


3 comentarios


Sun & Moon
Sun & Moon
03 ago 2024

Quero mais

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Tha 🍒💋
Tha 🍒💋
17 jun 2024

Estou completamente apaixonada nesses dois! Quero mais!

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kauanemedeiros480
15 jun 2024

KKKKKKKK ELES SÃO LOUCOS..


EU AMEIIIII❤

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