CAPÍTULO PROIBIDO - CRIMINALS #2: Roleta Russa.
- autorwudsonjr
- 14 de jun. de 2024
- 31 min de leitura
Atualizado: 28 de ago. de 2024

[NOTAS INICIAIS:] Esse capítulo faz parte do segundo livro da Trilogia CRIMINALS, o "Roleta Russa". Ele ocorre logo após o capítulo [15], intitulado "Billy, will you...". Caso queiram se situar melhor antes de ler essa BOMBA, sugiro que leiam o capítulo 15 lá no Wattpad antes de ler esse. Sobre esse capítulo: ele quase entrou na cronologia da história, mas após pensar e repensar nas mudanças que ele traria para ela, decidi descartá-lo. Vocês verão semelhanças no começo desse capítulo e o que, de fato, foi para o Wattpad, majoritariamente no início. Isso se dá porque eu acho que aproveitei as primeiras 04 páginas hahaha enfim, eu prometi mostrar esse capítulo para vocês, então aqui está! Boa leitura e segurem o estômago!
Capítulo dezesseis,
You Right,
Trad: Tem razão.
Dados de localização:
Melbourne, Austrália,
Los Hills, 03h26min a.m., (ainda) madrugada de terça-feira.
Hades.
Palavras-chave:
Insistência; Deslize; Uma decisão.
Enzo Salvatore,
Namorado.
Palavra esquisita do caralho.
Billy me encarava como se, de repente, eu fosse alguma espécie de criatura vinda de outro mundo. Eu deveria falar mais alguma coisa?
Ah, namore comigo porque eu te amo e não me vejo sem você.
Um caralho que eu iria algo assim.
Eu deveria falar algo mais romântico? Alguma espécie de discurso arrebatador? Porra, eu não tinha preparado nenhum. E, mesmo se tivesse o tempo necessário, não prepararia porra nenhuma. Se Billy quiser namorar comigo, tudo o que precisava fazer era dizer...
— Sim — disse ele, piscando rapidamente, como se de alguma forma não pudesse acreditar no que estava acontecendo. — Eu quero namorar com você.
E eu não consegui acreditar.
— Sério? — franzi o cenho, cético.
— Sim — sorriu.
— Mesmo?
— Claro — me deu um selinho. — Eu quero.
Minhas mãos se apossaram de suas coxas.
— Não tem mais volta: agora você é meu namorado — avisei-o.
Ele deu de ombros.
— Tudo bem — mordeu o lábio inferior. — Não vejo problema nisso.
— Certo — concordei, beijando seu queixo. — Então você é o meu namorado. Só meu.
Ele riu.
— Sim — beijou minha bochecha. — Eu nunca namorei ninguém. É a minha primeira vez.
— É a minha também — murmurei.
— Somos os primeiros um do outro — beijou a ponta do meu nariz. — O que namorados fazem?
Dei de ombros.
— Segundo os filmes, exatamente o que estamos fazendo — comentei. — É uma responsabilidade, exige confiança e honra — expliquei. — É um compromisso.
Billy concordou, brincando com a gola da minha blusa.
— De honra você entende — comentou.
Concordei seriamente.
— Significa que devo cuidar de você, proteger você e seus interesses, tratar você com gentileza e cordialidade. Esse é o meu compromisso e eu o farei sem hesitar — falei. — Desde pequeno, sei que devo cuidar do que amo.
Billy piscou rapidamente, sem dúvidas, atordoado.
— É um compromisso que também não hesitarei em cumprir — disse ele, segurando minhas bochechas. — Mesmo que você seja grande, mortal e assustador, irei cuidar de você e dos seus interesses — sorriu.
— Grande, mortal e assustador? — franzi o cenho.
— Todos aqui têm medo de você — deu de ombros.
— Você tem?
Ele balançou a cabeça negativamente, com as bochechinhas coradas.
— Não mais — revelou.
Relaxei na poltrona, permitindo que ele fizesse carícias em meu rosto.
— Bom — comentei, por fim.
É bom saber que ele não me teme, pensei.
Billy cutucou minhas bochechas, as linhas na minha testa, minhas têmporas, analisando cada traço do meu rosto com a ponta dos dedos. Fechei os olhos, aproveitando a sensação do seu toque. Era gostoso ficar assim: tê-lo sentado em meu colo, ganhando carícias veladas. Não sei por que recusei uma experiência como essa por tanto tempo.
Tantas pessoas já atravessaram minha vida e tentaram me oferecer algo semelhante e em todas as vezes eu recusei. Não me arrependo de ter recusado, porque isso me levou diretamente para Billy. Mesmo assim, não pude me impedir de imaginar que, caso não tivesse recusado uma das ofertas, isso teria me feito descobrir o que é carinho de verdade muito mais cedo.
Talvez eu devesse parar de ser tão cético sobre o que as pessoas me oferecem. A verdade é que sou um filho da puta tão desconfiado e, às vezes, sinto que perco muito por negar tanto.
Mal notei quando o sono me tomou os sentidos.
[...]
Quando acordei, ainda estávamos na sala privativa do Hades. A chuva ainda castigava a parede vítrea enquanto Billy ressonava baixinho em meu colo, com o rosto encostado em meu peito e as mãos apoiadas em meus ombros. Ele pareceu delicado como o Inferno daquela maneira e me custou muito para finalmente o aconchegar na poltrona e sair de baixo dele. Fiquei em pé e o observei dormir por alguns instantes, satisfeito pela sua expressão tão pacífica.
Nas últimas vezes em que o vi dormir, ele me pareceu assombrado e preocupado, então notar aquela mudança sutil me deixou contente.
E, pela primeira vez, senti que dormi profundamente e o suficiente para não acordar ainda cansado. Não tive pesadelos, muito menos acordei de abrupto como em todas as vezes que dormi desde que Terrence resolveu fazer da minha vida a porra de um Inferno.
Não. Dessa vez foi diferente: dessa vez, quando fechei meus olhos, senti que realmente dormi pra caralho.
Bom.
Observei a paisagem através da parede vítrea. Árvores altas o suficiente para cobrir os prédios e nos manter escondidos do resto do mundo. Estar em Los Hills também poderia ser um dos motivos para a qualidade do meu sono estar melhorando gradativamente. Aqui eu não me sentia constantemente ameaçado porque sabia que era o melhor lugar para se estar.
Era a minha verdadeira casa.
Um raio iluminou o céu no instante em que a porta da sala foi aberta minimamente. Olhei para trás e franzi o cenho ao perceber que era Romeo, que me chamava silenciosamente. Ele parecia preocupado e, de alguma forma, determinado.
Bufei. Não queria falar com ninguém naquele momento, queria ficar sozinho com Billy e aproveitar o resto da madrugada. Mas, no fundo, eu sabia que devia uma conversa ao Romeo, afinal, ele havia me ajudado a escapar do incêndio em Saint Blood e, segundo o código de conduta dos Salvatore, uma vida salva é uma dívida eterna.
Olhei para Billy uma última vez, checando se estava confortável o suficiente, e deixei a sala em silêncio, seguindo Romeo para o final do corredor, entrando na última sala disponível. Ali havia uma escrivaninha, duas poltronas e um pequeno bar. Romeo se sentou em uma das mesas diante do balcão do bar e me aguardou, parecendo enervado.
— Precisamos conversar — disse ele. — É sério, Enzo.
Fechei a porta, escorando-me ao lado, de braços cruzados.
— Estou escutando — afirmei.
— Eu salvei sua vida — disse ele.
— Sim, salvou — foi tudo o que disse.
Romeo engoliu em seco, parecendo pensar no que dizer.
— Eu pesquisei nos livros dos Salvatore lá na biblioteca e descobri que uma dívida de vida é algo que vocês levam muito à sério — balbuciou. — No passado, se um Salvatore corresse perigo e fosse salvo, ficava devendo um favor a quem o salvou.
— De fato — murmurei, querendo que fosse direto ao ponto.
— Vocês ainda fazem isso? — perguntou.
— Os Salvatore “raiz”, sim — dei de ombros.
— Você é um Salvatore “raiz”? — engoliu em seco.
— O que você acha? — rosnei. — Fala logo que caralho você quer, porra.
Silêncio.
Romeo se levantou, andou até mim e respirou fundo antes de dizer:
— Eu quero um beijo.
Silêncio.
Soprei um riso, sem dúvidas desacreditado, mas nem um pouco surpreso.
— E você acha que pode pedir um beijo meu? — rosnei. — Não somos mais adolescentes, porra.
— Você me deve — disse Romeo, de punhos cerrados. — Eu fiz de tudo para ter sua atenção e agora tenho minha chance.
— Não vai acontecer, puto — torci o lábio. — Peça outra coisa. Dinheiro, sei lá, seja criativo.
— Eu quero o beijo — disse, resoluto. — Se não estiver disposto a cumprir sua palavra, irei fazer uma denuncia para a Alta Cúpula.
Ri.
— Vá em frente e me denuncie porque não quis te beijar. Eles vão te levar à sério pra caralho — ri um pouco mais, realmente entretido. — Aproveite que ainda não meti uma faca no seu pescoço e saia da minha frente.
— Vou denunciar a localização de Los Hills para todo mundo — disse ele, vermelho de raiva. — Sei que a Alta Cúpula está procurando por você e que há uma equipe na Austrália seguindo seus passos. E se eu disser para todos onde Los Hills está localizada? Seu Oasis seria invadido em dois tempos.
— Você seria capaz de contar algo sem a língua? — indaguei-o, segurando seu pescoço em um ímpeto. Ele engoliu em seco e guinchou de surpresa e medo. Empurrei-o contra o balcão do bar com força o suficiente para fazer doer. — Qualquer que seja a merda de pensamento que você esteja alimentando sobre ter algum poder aqui, esqueça — ordenei. — Esqueça que você vale alguma porra ou que vale alguma migalha da minha atenção.
Romeo piscou, aturdido.
— Eu não quero te beijar, você não me atrai — rosnei. — E eu quero você fora de Los Hills ainda hoje.
— Mas você me beijou naquela noite...
— Vaza, filho da puta — rosnei.
— Já que estou entre a cruz e a espada...
Foi tudo o que ele disse antes de avançar e tentar me roubar um beijo. Foi rápido e brusco e acabou beijando minha bochecha. Apertei sua jugular quando o empurrei para trás e ele tossiu, os olhos arregalados de medo.
— Eu quero te dar tudo o que eu tenho porque sei que você cresceu com tão pouco — sussurrou, deixando uma lágrima cair.
— Você não sabe de nada sobre mim — rosnei.
— Terrence te odiava, Enzo, eu sei disso. Sei que você foi torturado, cortado, baleado, e tudo isso para o divertimento dele — começou a chorar. — Por que não aceita o que tanto quero te dar?
Com muito esforço, ele conseguiu acariciar minha bochecha, carinho que acabei aceitando a contragosto. Suas palavras, de alguma forma, penetraram a camada mais grossa da minha mente e me fizeram pensar exatamente sobre o que refleti no início da noite: por que me privo tanto de aceitar o que tanto me oferecem?
Terrence não estava mais aqui para me impedir.
Agora o poder era todo meu.
Logo eu, que cresci sendo privado de ganhar ou sequer aceitar coisas, agora recusava tudo o que via porque tinha medo.
Eu não quero aceitar o que Romeo está me oferecendo porque não é o que eu, de fato, quero. Eu não gosto dele, tampouco me sinto atraído. No entanto, me sinto atraído pela oferta porque ela é exclusiva para mim, que sempre tive tão pouco. A oferta é atraente; quem a oferece, não.
E, por mais que eu soubesse que estava cometendo um erro, eu quis, pelo menos, experimentar a sensação de aceitar algo sem sentir que teria o pescoço degolado por isso… pelo menos até perceber que não havia honra alguma em aceitar uma oferta como aquela. Eu não deveria procurar amor, não quando já o tinha. Eu tinha Billy, que era mais do que o suficiente, e eu tinha honra.
Segurei o queixo de Romeo brutalmente, de forma que seus lábios formaram um bico ridículo. Ele arregalou os olhos, assustado.
— Se fizer isso mais uma vez, eu te mato — avisei-o. — Quero você fora de Los Hills.
— Eu não... — teve dificuldade em falar. — Eu não vou embora!
— Ah, você vai — rosnei, no limiar da fúria desenfreada. — Você vai ser escoltado para fora daqui.
— Você só está com medo de aceitar e gostar — riu, afastando o rosto do meu toque, sorrindo sem fôlego. — Você tem medo de foder comigo e gostar da sensação.
Silêncio.
— Foder com quem quiser é poder e você adora poder, hm? — riu.
Empurrei-o e alcancei a porta.
— Você tem duas horas para montar as malas e estar fora de Los Hills. Não ouse falar para ninguém sobre esse lugar ou irei te caçar e torcer seu pescoço com minhas próprias mãos — avisei-o, apontando o indicador com firmeza na sua direção. — Você sabe que estou falando sério.
— Você virá atrás de mim, Enzo, e eu estarei esperando — riu, apoiando-se no balcão do bar, as mãos trêmulas.
— Só se for para te matar, filho da puta — rosnei, saindo da sala.
Fechei a porta com força e encarei o corredor, domado pela fúria, pensando no que faria a partir dali. Romeo havia me beijado, mesmo que rapidamente, e se revelou uma ameaça à segurança de Los Hills. Ele sabia que seria morto no instante em que revelasse a localização de Los Hills, talvez nem por mim, mas por qualquer sócio que viesse a descobrir. Todos aqui cuidavam desse lugar como se fosse uma casa. Mesmo sabendo disso, tive o pressentimento de que, no calor do momento, e para se vingar, não hesitaria em honrar aquela ameaça.
Ele era o tipo de puto esquisito que faria algo mesmo que isso o matasse no final.
Decidi descer para o cassino e procurar por alguma bebida, talvez encontrasse Cyber no caminho. Ao passar pela porta da sala em que Billy estava dormindo, torci o lábio. Eu queria vê-lo, mas também queria beber dois copos seguidos de tequila – e foi isso que fiz. Minutos depois, estava sentado em uma das cadeiras de uma das ilhas do bar, segurando um copo com uma dose dupla de tequila. O álcool desceu ardendo no primeiro gole, depois desceu como água.
Encontrei Cyber na pista de dança, dançando com Apolo. Uma cena interessante de se assistir. Cyber sabia dançar e, aparentemente, Apolo também, no entanto, estava tão nervoso que se atrapalhava para acompanhar os passos de Cyber. Em certo momento, Cyber segurou sua cintura e colou seus corpos, não dando chance nem espaço para Apolo fugir ou errar.
A música acabou e Apolo falou algo para Cyber antes de se afastar. Segui-o com o olhar até perceber que ele estava indo ao banheiro. Então, Cyber olhou diretamente para mim. Sorri de uma forma quase vil, entretido por ele, lhe erguendo meu copo pela metade em sinal de compreensão. Ele me alcançou em dois tempos, sentando-se na cadeira ao lado.
— Mano, vou te dizer uma coisa — disse Cyber, roubando meu copo e o dando um longo gole.
— Fala — acenei para que o bartender nos servisse doses novas.
Cyber largou o copo sobre o balcão em meio a uma careta.
— Esse lance de amor não é pra mim, mano — reclamou. — Eu quero foder, entende? Quero pegar o Apolo e dobrar ele em cima de uma cama.
— E por que não faz exatamente isso? — franzi o cenho.
— Ele quer “conversar” — fez aspas com os dedos. — Quem conversa numa madrugada, cara?
Soltei uma risada soprada, divertido pela tom amargurado de sua voz.
— O Apolo me parece um homem sensível — comentei. — Você o conhece mais do que ninguém.
— Ele é como uma florzinha — comentou, bebendo sua nova dose de tequila. — Uma flor que quero segurar pelo caule e meter a pica.
Ri, ele me acompanhou.
— Querer não é poder — encolhi os ombros. — Algo me diz que hoje a noite a única coisa que você vai chupar é o dedo, igual um bebezinho — brinquei.
Cyber me acertou com um pequeno e muito fraco soco no ombro, torcendo o lábio em uma careta de poucos amigos.
— Quê que houve? — franziu o cenho, analisando algo em meu rosto. — O que rolou, mano?
Era por isso que éramos amigos há tanto tempo: Cyber lia minhas expressões melhor do que ninguém.
— Romeo fez uma merda — rosnei, dando um longo gole na minha bebida. — Ele veio com uma conversa de que vai me cobrar por uma “dívida de vida”.
— Ele salvou sua vida, por acaso? — ergueu uma sobrancelha.
Bufei, desconfortável. Eu ainda não havia contado para ninguém sobre a noite do incêndio e como fui salvo por Romeo e seu rastreador na porra da minha antiga arma favorita.
— Salvou — foi tudo o que me permiti dizer.
— E o que ele cobrou?
— Se você rir, eu te mato — apontei o indicador contra seu peito.
— Fala — disse, sério.
— Ele me pediu um beijo — respondi, simples.
Cyber não riu.
— Ele sabe que você está com Billy, não sabe? — perguntou.
— Sabe, porra — rosnei. — Quem aqui não sabe desse caralho?
— Ele te beijou? Você concordou com o beijo?
— Não concordei, mas o puto tentou mesmo assim — revelei, cruzando os braços. — Não significou nada.
— Cara, senti até um arrepio aqui — disse ele, mais sério do que nunca. — Se Billy descobre, é capaz de virar o Hades de cabeça para baixo.
— Eu sei, ele detesta o Romeo — torci o lábio.
Silêncio.
— Romeo ameaçou revelar a localização de Los Hills para todos caso eu não aceitasse esse beijo — revelei, dando mais um gole na tequila. — Preciso dar um sumiço nesse filho da puta.
Cyber esfregou o queixo.
— Acho que não é a melhor ideia — disse, por fim.
— Por que, caralho?
— O pai do puto ainda é um sócio poderoso, filho da puta — rosnou. — Tá com a cabeça onde, porra?
Torci o lábio, largando o copo vazio sobre o balcão, sinalizando ao bartender para que pusesse mais uma dose.
— Não faça nada por enquanto — disse Cyber. — Vamos pensar em um destino mais agridoce para o puto.
— Então segura ele, cara, antes que eu meta uma bala na testa dele — rosnei. — Se vamos fazer do seu jeito, então dê a porra do seu jeito.
— Eu adoro fazer as coisas no sigilo — piscou para mim, sorrindo. — Deixa comigo.
De repente, nós dois olhamos para Apolo saindo do banheiro.
— Mas hoje não — disse, largando seu copo vazio sobre o balcão. — Hoje eu vou comer aquela florzinha — inclinou o queixo na direção do Apolo. — Ou então vou morrer de ataque cardíaco.
Não o respondi, limitei-me a terminar minha tequila enquanto o assistia se aproximar de Apolo e o tomar nos braços. Bufei, olhando ao redor, observando o movimento. A casa estava cheia para caralho, assim como a porra da minha cabeça. A música ecoava através das caixas de som e me deixava nauseado. Larguei o copo já vazio sobre o balcão e decidi sair do Hades em busca de algum ar fresco.
Lá fora, a chuva deu lugar a uma neblina incessável, fraca demais para molhar minhas roupas. Caminhei pelo estacionamento catando um cigarro do bolso, acendendo-o com o isqueiro do manobrista. Soprei a fumaça, continuando meu caminho sem rumo, passando pelos carros lentamente. Eu precisava de silêncio e da solidão ou então não conseguiria fazer decisões coesas.
Naquele momento mais parecia que havia perdido toda a minha capacidade de decidir o que é melhor para mim.
De um lado, eu tinha Billy: selvagem, impiedoso, decidido, carinhoso, amoroso e a fonte de toda a minha obsessão amorosa. Eu o amava, talvez muito antes de dizer isso para ele no dia do meu casamento. Não era apenas uma leve atração ou uma confusão da minha cabeça: era amor, confiança e carinho.
Do outro lado: estava tudo o que o mundo poderia me oferecer e que, por causa de Terrence, por muitos anos fui forçado a recusar.
De repente, me vi em um impasse entre o que eu tinha e o que tanto fui forçado a recusar. E eu sabia que o que me ofereciam no momento não era alvo do meu querer, mas justamente o fato de que estavam me ofertando – porque me tornava importante e me dava poder.
Sobre isso, Romeo estava certo: eu estava cada vez mais encantado pelo poder.
Traguei o cigarro novamente, soprando a fumaça pelos ares.
Olhei para cima e não me custou muito para achar o andar e a sala em que Billy ainda dormia. As paredes de vidro do Hades não possuíam fumê, então era possível ver através delas. Vi tufos de cabelo loiro emaranhados e um pouco das suas linhas faciais.
Então, vi um homem entrando na sala.
Parei o cigarro rente à boca, tensionando os músculos como o Inferno. Eu estava distante demais para simplesmente correr até a sala e os vidros eram à prova de balas, então a arma presa no coldre do meu cinto era inútil.
O homem entrou na sala e cutucou o ombro de Billy até acordá-lo. Billy se assustou, então pareceu reconhecê-lo e sorriu, levantando-se da poltrona. Percebi quando ele pareceu me procurar brevemente pela sala, mas isso não durou muito, logo voltou sua atenção total ao visitante, todo sorridente.
Semicerrei os olhos, estranhando sua reação. Até então, Billy não pareceu conhecer ninguém em Los Hills e aquela sua reação parecia amigável demais para um desconhecido. Talvez fosse um conhecido dos seus tempos de festa, quando fugia da vigia de Geong? Definitivamente era alguém do seu passado.
O homem o segurou pelos ombros e o puxou para um abraço forte e profundo, falando algo que fez Billy rir ao ponto de tremer os ombros. Nesse momento, posicionei meu cigarro entre os lábios e me permiti assistir a tudo aquilo.
Afinal, Billy não me parecia em apuros.
O desconhecido apartou o abraço e beijou sua bochecha, segurando os cantos da sua cintura, e assim eles conversaram por minutos a fio. Querendo ou não, peguei-me pensando se Billy estaria me esperando ou não. Isso sequer passou pela sua cabeça? Então, acabei me perguntando por que eu estava tão preocupado com aquela interação. Billy, acima de tudo, era um homem adulto e sabia o que estava fazendo.
Só me restou tentar confiar nele.
Mesmo assim, não consegui não me sentir desconfortável. Para mim, só os amantes se tocavam assim tão intimamente.
O homem segurou os dois lados do seu rosto e o puxou para fora do quarto – e eu, como um idiota inseguro, avancei pelo estacionamento e entrei no Hades, subindo as escadas para o segundo andar de dois em dois degraus. A porta da nossa sala estava escancarada e a porta ao lado também. Segui em direção à segunda porta e espiei o cômodo silenciosamente. O desconhecido e Billy estavam lá, sentados um de frente para o outro. O desconhecido servia uma bebida para Billy, que ria de algo que ele havia acabado de contar.
— Estou falando sério! — disse o desconhecido.
Agora perto o suficiente, pude observar seu complexo com mais detalhes. Alto, cabelo tingido de vermelho, pele amarela levemente bronzeada, tatuagens por todos os dois braços. Um maldito gibi. Vestia roupas dignas de um puto playboy com uma preferência doentia por couro e correntes. Uma leve análise pelo seu rosto me permitiu reconhecer que ele deveria ser de algum lugar da Coreia.
— Faz anos que não te vejo, então não duvido que isso tenha acontecido — disse Billy, dando um gole na bebida. — Você viu Namjoon e os meninos?
— Assim que cheguei em Seul — disse o desconhecido, com a voz rouca de tanto fumar.
Maldita chaminé do caralho.
— Depois que você se mudou para os Estados Unidos, perdemos o contato — disse Billy. — É bom ver você, Christian.
— Nós dois sabemos que uma hora ou outra eu iria voltar — Christian, o bastardo, deu de ombros. — Nós dois temos assuntos inacabados.
— Eu e você? — Billy soou incrédulo.
— Isso mesmo — Christian ergueu o queixo. — Nós quase namoramos, não lembra?
— Nós só ficamos algumas vezes — Billy riu, bebendo outro gole da bebida.
— Foi o suficiente — Christian sorriu. — E eu sei que você ficou gamadão em mim na época.
— Isso foi há uns dois anos — Billy deu de ombros. — É passado.
— A gente fodeu em todos os prédios de Seoul, Billy — disse ele. — Como é possível esquecer algo assim?
Torci o lábio, percebendo que, naquele momento, eu estava tremendo de raiva. Não pelo Billy, mas sim pelo filho da puta daquele moleque convencido. E daí que foderam no passado? Ele deveria ter a mínima noção e perguntar se Billy estava comprometido ou não... ou pelo menos disposto a reviver esses momentos numa conversa.
Porra, estou pensando como um adolescente inseguro que goza na cueca, pensei, mortificado e irado ao mesmo tempo. Eu quero entrar nessa sala e quebrar a cara desse filho da puta, mas sei que essa conversa é particular e que não tenho nada a ver com isso. Mas... porra! Se minha moral não me impedisse, eu já estaria virando uma mesa na cabeça do filho da puta.
Posso ser o homem mais primitivo do mundo em alguns momentos, mas sei que há momentos em que se deve apenas observar e esperar que nada de ruim aconteça – porque sei que Billy é livre para fazer o que quiser. Sendo assim, devo apenas esperar pelo melhor.
Do mesmo jeito que me dei a liberdade de entrar numa sala com Romeo, devo ter noção de que Billy possui essa liberdade também. Na balança, nossos pesos são equivalentes. Porra, mesmo assim, é desconfortável pra caralho.
Christian se levantou da poltrona e segurou o queixo do Billy, acariciando-o como se fosse seu maldito dono.
— Eu me arrependo de ter ido para os Estados Unidos e não ter ficado com você — disse Christian.
Billy recuou do seu toque.
— Não se arrepende porra nenhuma — riu. — Você estava louco para deixar Seul.
Christian soltou um risinho.
— Você está certo — deu de ombros. — O que eu me arrependo mesmo é não ter ficado com você.
Isso calou Billy.
— Eu descobri através do Namjoon que você estava saindo com um Salvatore e, para a minha sorte, tenho contatos que me trouxeram até aqui. Vim aqui te ver — disse Christian.
— Você conhece os Salvatore? — Billy soou incrédulo. — E os meninos sabem quem são os Salvatore?
— Em certo momento da minha vida, precisei comprar uma arma — Christian deu de ombros. — Foi com os Salvatore que consegui uma boa. Namjoon não sabia quem são os Salvatore, mas ele me mostrou o perfil do Instagram de um cara que chamou sua atenção numa festa e eu reconheci aquele complexo físico. Só podia ser Enzo Salvatore, o nome mais quente do momento no mundo da Máfia. Todos estão o procurando lá fora, sabia?
Antes que eu pudesse me concentrar o suficiente para escutar a resposta de Billy, senti um toque sutil no meu quadril e olhei para o lado, reconhecendo o rosto de Romeo. Ele olhou com preocupação para mim antes de espiar o que estava acontecendo na sala.
— Não estou surpreso — disse ele, a voz não passando de um sussurro. — Eles me parecem próximos.
— Vaza daqui, porra — rosnei para ele, tentando soar baixo o suficiente para não chamar a atenção deles lá dentro.
— O de cabelo vermelho parece apaixonado — Romeo sussurrou em meu ouvido. — E ele veio de longe só para ver o Billy? Eu ficaria lisonjeado se fosse ele.
— Que bom que você não é ele, então— retruquei.
Christian disse algo antes de segurar o queixo de Billy.
Vamos lá, Billy, afaste o toque dele, diga que está compromissado. Você mesmo concordou em ser meu namorado.
— Eles estão se olhando tão profundamente... — Romeo voltou a murmurar em meu ouvido, soando como um maldito fantasma.
E, naquele momento, tudo o que saia da sua boca fazia sentido. Eu não sabia no que acreditar, ou em quem.
Eu queria acreditar que Billy não estava afetado pela presença daquele filho da puta de cabelo vermelho, mas a forma como ele reagia às suas investidas me dizia o contrário – e, para completar, Romeo não parava de sussurrar o quanto eles combinavam em meu ouvido.
— Esse cara não me parece ser um mafioso — disse Romeo. — Me parece mais um riquinho playboy que sabe demais, hm?
— E se for, caralho? — rosnei.
— Você sabe o que isso significa... — Romeo soou arrasado. — Você sabe que o Billy merece ficar com um homem que não seja desse mundo da máfia, hm? Um homem que não seja perigoso e que não tenha um alvo nas costas.
Porra, ele está certo, pensei. Como esse filho da puta do Romeo conseguiu acesso a um dos meus maiores temores relacionados ao meu relacionamento?
— Você sabe que não é o homem certo para ele, Zinho — Romeo voltou a sussurrar. — Ele não merece alguém que possa tirar ele desse mundo violento?
Porra, ele soa certo pra caralho.
Billy merecia alguém que o tirasse desse mundo que tanto queria conhecer. A máfia não era para alguém como ele. Não, caralho, ele merecia viver em paz em algum lugar luxuoso, gastando as tardes em shoppings e bebendo cafés com farelo de ouro, não em uma fortaleza cheia com os criminosos mais perigosos e mais procurados do mundo.
Porra, o que eu poderia oferecer para ele além de um relacionamento conturbado e um alvo nas costas? Até onde minha possessividade me faria arrastá-lo comigo?
No final das contas, Romeo estava certo: Billy merecia alguém como Christian e não como eu – e isso me deixou mais sem chão do que pensei que deixaria. Perceber isso foi pior do que levar a porra de um tiro no ombro, no mesmo buraco em que fui atingido na floresta.
— E sabe o que você merece? — Romeo sussurrou em meu ouvido, acariciando meus ombros.
— Vaza, Romeo... — murmurei, no entanto, minha voz soou fraca e insegura.
Como um adolescente patético.
— Tudo o que resta para você é se envolver com pessoas que estão atoladas até o pescoço nesse mundo, assim como você — soprou.
Não.
Billy se afastou do toque de Christian e, por instantes, senti que estava sendo apenas um filho da puta paranoico. Minha relação com Billy era muito mais que a porra da máfia. Era amor, carinho e proteção. Porra, era tudo ao mesmo tempo. Então, Christian cruzou os braços e começou a falar sobre o que fizeram no passado: passeios em museus, parques, encontros românticos em restaurantes, cinema, festas, fodas nas festas.
Eu não poderia oferecer nem metade disso ao Billy.
Como eu poderia competir?
— Pessoas como o Billy merecem viver longe disso aqui, de você — disse Romeo, acariciando meu peitoral. — Pessoas como você ficam com o resto, o que já está corrompido — sussurrou. — Você tem que aprender a se contentar com o resto, Zinho.
Silêncio.
— Pouco importa o que sente por ele. Use sua honra e pense no melhor para vocês. Você largou seu cargo de chefe da maior máfia do mundo para se esconder numa floresta com o Billy porque aqui é seguro, principalmente, para ele. Você está perdendo o prestígio e o poder que é ser o chefe dos Salvatore por um... amor? — soou indignado. — Largou o maior e melhor cargo da sua vida para ficar ensinando um novato como o Billy a atirar por aí? Você é melhor do que isso, Enzo.
Silêncio.
Billy riu de uma brincadeira contada por Christian e meu peito doeu.
Chega, pensei, isso é demais. Não vou deixar meu coração guiar meu discernimento. Eu não sou o tipo de homem que fica no pé de uma porta se lamentando por amor. Isso não é para mim.
— Talvez você tenha razão — murmurei para Romeo, dando um passo para trás, deixando a porta da sala onde estavam.
— Você sabe que eu tenho — disse ele, segurando meu antebraço, puxando-me pelo corredor, na direção da sala onde estivemos durante a madrugada. — Vamos beber, hm? Quem sabe você melhora e conversa comigo sobre isso.
— Eu achei que eu e Billy fossemos funcionar — revelei, me odiando por estar tão fragilizado ao ponto de falar algo assim para alguém como o Romeo.
Ele provavelmente estava se alimentando das minhas inseguranças para, depois, usá-las contra mim. Eu tinha plena certeza disso. No entanto, naquele momento, pouco me importei.
— Vocês dois nunca vão funcionar, Zinho — disse Romeo, convicto. — Seus mundos são diferentes, entende? Você nasceu para fazer coisas grandiosas no mundo da máfia e o Billy... nasceu para outras coisas.
— Ele não merece ser exposto a esse perigo — comentei, reflexivo. — Eu sei disso, mas...
— Não há “mas” — Romeo me interrompeu, abrindo a porta da sala.
Ele me empurrou para uma das cadeiras do bar, fechou a porta e me serviu com um copo de tequila dupla. Novamente, eu sabia que estava sendo atraído para o covil de uma cobra assassina, mesmo assim, pouco me importei. Talvez, no fundo, eu quisesse ser atraído, persuadido... distraído, assim eu me esqueceria do que vi entre Billy e Christian: algo que Billy nunca teria comigo.
Por longos minutos, escutei Romeo discursar sobre o quão imprudente eu estava sendo ao deixar tudo para trás na Sicília por um amor. Em partes ele estava certo. Largar tudo na Sicília para vir atormentar Billy foi imprudente. Toda a Alta Cúpula estava me procurando e minha reputação entre eles não devia estar das melhores. Em partes, também, quis calar a boca dele com a porra de um soco.
Na quarta dose de tequila, Romeo segurou meu rosto delicadamente e eu o deixei.
— Se você perder sua cadeira na Máfia Salvatore, Enzo, o que irá restar para você? — Perguntou.
E sua pergunta criou um redemoinho em minha mente.
— Vai passar a ser um “ninguém”, assim como Terrence te transformou enquanto estava vivo. Billy tem toda uma rede de amigos, uma carreira no mundo da moda, eu pesquisei... — encolheu os ombros. — Para ele, a Máfia é um objeto de desejo, não uma carreira, como é para você. Se você perder essa única oportunidade de se tornar o maior chefe já visto dos Salvatore, quem será você?
Silêncio.
— Eu estou tentando te ajudar, percebeu? Eu sei o que você precisa. O Billy nem sabe o que ele quer — torceu o lábio, levantando-se da cadeira, aproximando-se de mim. Ele passou a segurar meu rosto com ambas as mãos, acariciando minha pele com os polegares. — Eu sei o que é melhor para você.
Nunca me senti tão jogado às traças. Minha capacidade de discernir o que era bom ou ruim estava em frangalhos. Em minha mente, tudo o que eu conseguia pensar era na forma como Billy se reconectou ao Christian com tanta facilidade. Então, Billy foi substituído pela minha carreira. Romeo estava certo. Que porra será de mim caso eu não seja aceito como chefe absoluto da máfia? Quem caralhos eu vou ser quando a Alta Cúpula parar de me procurar, declarar que falhei em meu teste, e perder minha cadeira na Máfia? Vou voltar a ser o filho indigente do antigo chefe? Vou perder todo o meu poder?
Porra. Talvez se eu dormisse o suficiente ou descansasse mais, não ficaria tão suscetível a pensar como um fracassado.
— Preciso pensar — murmurei, levantando-me da cadeira, indo até a parede vítrea.
Observei a paisagem recoberta pelo luar e pelas árvores de copas cheias. O álcool transitava em minhas veias, mas eu estava mais sóbrio do que nunca. Não havia espaço para a embriaguez quando minha vida estava enfiada em um tornado de paranoias e temores.
Abrir mão de Billy.
Perder meu poder e me tornar a porra de um indigente para quem considero ser minha própria família, voltando a ser o que Terrence me tornou desde a infância...
Romeo me alcançou e massageou meus ombros, circulando ao meu redor até estarmos cara a cara.
— Eu sei como a máfia funciona, Enzo Salvatore — murmurou, acariciando minha bochecha.
Porra, de novo com esses toques.
— Eu posso te ajudar a se manter sã nessa jornada, algo que você claramente não está conseguindo sozinho...
Vislumbrei a paisagem pela última vez.
— Eu sei o que você quer, Romeo — murmurei, passando a analisar seu rosto.
Ele parecia alguém que acabou de ganhar uma grande competição. Seus olhos brilhavam e sua boca estava petrificada em um pequeno sorriso condescendente.
— Sim, você sabe, é apenas um pequeno preço — sussurrou, ficando na ponta dos pés, tentando me beijar.
Recuei novamente, recusando seu beijo.
— Não, filho da puta, eu já falei — rosnei.
Ele fez um biquinho, chateado.
— É algo que posso conseguir com o tempo — deu de ombros.
Balancei a cabeça negativamente.
— Você nunca vai conseguir merda nenhuma comigo, não nesse sentido — dei dois tapinhas no seu rosto.
— Veremos — sorriu.
Bufei, encarando a paisagem através da vidraça.
— Você quer ser amado ou quer se tornar o chefe mais poderoso e temido que a Máfia Salvatore já conheceu? — perguntou baixinho.
Pensei em Billy, depois pensei em Billy morto por Bates Crew como consequência do seu envolvimento comigo. Então... então pensei no meu futuro, no que tanto batalhei para conquistar e que, agora, podia ver que estava abrindo mão.
Mesmo que algum dia aconteça, foder Romeo é apenas um pequeno preço, ponderei. Matar Billy por causa do meu egoísmo é algo que não posso sequer pensar em pagar. E, na balança da minha moral, abrir mão do que tanto queria proteger me pareceu mais aceitável do que ouvir meu coração.
— Você sabe a resposta, bebê — sussurrou, sorrindo.
Porra, eu sei.
— E você sabe o que deve fazer para se livrar do Billy de uma forma que ele nunca mais irá voltar — murmurou misteriosamente.
Franzi o cenho.
— Acabe com isso que vocês têm — ofertou, abraçando os lados do meu quadril. — Não perca seu cargo na Máfia. Dessa forma, você o protege e ainda cuida do seu futuro glorioso.
Recuei. Não consegui aceitar o calor e a textura dos seus lábios nos meus. Ele me encarou com confusão e eu sequer consegui xingá-lo. Porra, minha cabeça estava uma confusão. Dei dois passos para trás.
Por mais que não tenha aceitado trair Billy, agora eu sabia mais do que nunca que não era o homem certo para ele. Não era mais uma pressuposição, como senti quando o revelei essa insegurança no pomar de Saint Blood, era uma constatação, a porra de uma certeza. Não sou o homem certo para ele. Estou carregando muito nas costas. Estou sendo perseguido por homens que podem usá-lo como alvo para me atacar. Estou sendo um filho da puta egoísta.
Que merda concluir algo assim na noite em que pedi aquele príncipe em namoro…
Empurrei Romeo com raiva, indo até a porta de saída.
— Preciso falar com o Billy — murmurei, andando pelo corredor. — Pelo menos uma última vez… só para ter certeza.
Com a visão embaçada, alcancei a porta da sala onde Billy e Christian estavam. Todavia, acabei esbarrando com o maldito Christian no corredor.
— Opa, mano, cuidado — disse ele, esfregando o ombro machucado.
— Vai se foder — rosnei.
Ele, por sua vez, piscou rapidamente, parecendo reconhecer algo em mim.
— Você é Enzo Salvatore, certo? Estou certo? — sorriu, erguendo seu copo pela metade para mim. — Prazer em te conhecer, cara.
Silêncio.
— Eu vi você e o Billy — foi tudo o que consegui dizer. — Você deixou bem claro que o quer de volta.
Christian encolheu os ombros, com um sorriso no canto dos lábios.
— Sei que vocês estão juntos, ele me contou — disse ele.
— Mesmo assim, quer tentar uma chance — semicerrei os olhos.
— Nós temos um passado e só se vive uma vez — seu sorriso aumentou. — Quero tirar ele desse lugar perigoso — torceu o lábio. — Me entende? Ele não é esse tipo de homem — murmurou, analisando-me da cabeça aos pés.
— Sei que você sabe com quem está falando — murmurei.
— Sei.
— Tome cuidado, hm? Ou pode acabar a noite na sarjeta — aconselhei-o.
— Me machuque, então — sorriu. — Machuque um amigo de adolescência do Billy, assim você mostra para ele de uma vez o tipo de monstro que eu sei que você é.
Silêncio.
— Arranca um fio de cabelo meu, cara — rosnou, aproximando-se, tentando parecer ameaçador. — Mostra para todos que você não é o tipo de homem para ele. Eu pago para ver.
Rosnei, cada vez mais ciente da arma presa ao coldre do meu cinto.
— Nós dois sabemos que você não o merece. Eu li sobre o que você já fez, sobre as pessoas que matou… Billy não merece passar o resto da vida preso a um assassino — cuspiu. — Isso se ele não for morto aos trinta anos, hein? — soltou um risinho. — Só quero proteger ele.
— Nunca vi alguém protegendo outra pessoa estando morto — lhe ofereci um sorriso desagradável. — Some da minha frente antes que eu deixe minha paciência de lado.
Ele sorriu, balançando a bebida rente aos lábios.
— Até depois, cara — disse ele, esbarrando no meu ombro pela última vez antes de me dar as costas e seguir em direção ao primeiro andar.
Porra, minha cabeça está um redemoinho.
Encarei a porta fechada da sala em que Billy estava e respirei fundo. Ao entrar sem sequer bater, encarei Billy. Ele me encarou com surpresa, sentado com as pernas cruzadas em uma poltrona, bebericando um copo de alguma bebida colorida.
— Acabei de falar com o puto do cabelo vermelho — comentei, pouco me importando com o tom grosso da minha voz.
— Christian? — Franziu o cenho. — Ele é um amigo de infância. Ele voltou? Ele me disse que já estava de saída…
— Eu o vi — engoli em seco, torcendo o lábio. — Eu ouvi a conversa de vocês.
— Oh… — Billy arregalou os olhos. — Ele é passado, espero que saiba disso.
Concordei, enfiando as mãos nos bolsos da calça.
— Talvez não seja um problema se ele ainda for presente — encolhi os ombros.
Que porra estou falando? Acabei de dar razão para um filho da puta que mal conheço… não, ele não é um filho da puta qualquer: ele é o passado do Billy.
Billy largou o copo sobre a mesinha vítrea de centro e se levantou, vindo até mim.
— Do que você está falando, Enzo? — franziu o cenho, segurando meu antebraço. — Você está bem? Você parece… bêbado.
— Estou bem — respondi rapidamente. — Bem o suficiente… — encarei o chão. — Estou me sentindo… atormentado.
— Por quê?
Então, com um forte suspiro, olhei no fundo dos seus olhos castanhos e límpidos, no qual vi alguém puro e que não merecia viver no meu mundo. Nem mesmo se ele quisesse. Existe um motivo para os mafiosos com mais de setenta anos serem uma raridade: a violência é extrema e nem todos sobrevivem. Na verdade, menos da metade dos mafiosos passa dos trinta. Eu sabia disso, Billy não. Mesmo com todos os treinamentos do mundo, ainda assim ele não estaria pronto para enfrentar sequestros de verdade - muito menos eu estava pronto para pensar na possibilidade de vê-lo correndo perigo.
E eu sabia que, caso continuasse comigo, ele viveria em perigo constante.
Respirei fundo, prestes a falar algo que nunca me imaginei falando, não depois de viver os melhores momentos da minha vida aqui em Los Hills, com ele.
— Não podemos continuar — murmurei, por fim. — Precisamos terminar.
Billy recuou dois passos, seus olhos se encheram de lágrimas rapidamente.
— Do que está falando, Enzo? O que houve? Estava tudo certo…
— Eu percebi o quão merda estou sendo com você o mantendo ao meu lado.
— Nós já falamos sobre isso — Billy engoliu em seco, aproximando-se, segurando meus antebraços. — Eu sei onde estou me metendo. Eu quero ficar ao seu lado.
— Mas eu não quero — torci o lábio, afastando suas mãos de mim. — É muito perigoso, Billy. Demorou demais para que eu percebesse isso, mas agora eu já sei que não podemos ficar juntos.
— Você está errado, Enzo — disse ele, soando indignado, deixando a primeira lágrima rolar pelo rosto. — Quem colocou isso na sua cabeça? Foi o Cyber? O Ângelo? — ele fez uma pausa. — Romeo? — engoliu em seco, proferindo o nome entre dentes. — Foi ele, não foi?
Suspirei.
— Isso não importa — encolhi meus ombros. — É a verdade, de qualquer forma. Não podemos ficar juntos. Eu tenho que lidar com muita coisa que está fora daqui, coisas das quais não posso mais fugir.
— Mas… — ele soluçou. — Você disse que me ama.
Em seguida, caiu em lágrimas.
E, para o meu espanto, eu também comecei a chorar.
Porra, as lágrimas estão escorrendo pelo meu rosto comu uma maldita cachoeira.
— Eu te amo — murmurei, sendo tudo o que consegui dizer.
— Como? Se está me deixando… — soluçou.
— É exatamente por isso — enxuguei os cantos dos meus olhos com as costas das mãos, enjoado.
Meu corpo estava agindo de forma estranha. Eu quase nunca chorei em toda a minha vida e agora mais parecia que tinham girado os registros de duas torneiras bem na porra da minha cara.
— Eu aguento viver nesse mundo, Enzo — disse ele, cerrando os punhos. — Eu sou forte! — apontou o dedo contra meu peito, tão forte que me fez recuar. — Você está sendo injusto e um babaca!
De repente, alguém estava batendo à porta. Bastou uma espiada para trás para ver que era Cyber. Ele entrou na sala hesitantemente, Apolo ao seu lado, e perguntou:
— Que merda está acontecendo aqui? Todo mundo está escutando nesse corredor, porra.
— Enzo está terminando comigo, é isso que está acontecendo! — Billy respondeu, cruzando os braços. — Ele acha que não sou forte o suficiente para ser um de vocês.
— Ele vai morrer, cara — murmurei para Cyber, fungando, me sentindo um idiota por estar chorando na frente do meu melhor amigo, seu ficante e o amor da minha vida. — Uma hora ou outra, ele vai morrer. Lembra do que conversamos no dia do meu casamento?
Senti que pressionei um dos seus nervos com essa pergunta. Ele encarou Apolo de soslaio e torceu o lábio, concordando.
— Nós podemos resolver isso, mano — disse ele. — Não pense com a cabeça quente.
Rosnei.
— Estou pensando melhor do que nunca — retruquei. Olhei Billy, sentindo que meu coração iria pular pela boca. — Nós falamos que só iríamos até onde aguentamos, hm? — franzi o cenho, sentindo o suor escorrendo pelas mãos. — Aqui é até onde eu aguento — afirmei. — Nada mais.
Billy esfregou os olhos, em frangalhos, soluçando.
— Você merece um homem como o Christian ou melhor — murmurei, enxugando os cantos dos olhos mais uma vez. — Merece alguém que não irá colocar um alvo nas suas costas por puro egoísmo.
Solucei estrondosamente.
— Você merece comprar em shoppings em Veneza, não fugir de criminosos com uma arma.
— Enzo… — Billy negou profundamente.
— Eu não quero te arruinar — funguei.
— Você já está fazendo isso…
— Mano… — Cyber tentou se pronunciar.
— Não se mete nisso, porra — rosnei para ele. — É a minha decisão.
Ele recuou a contragosto.
Encarei Billy pela última vez.
— Volte com Cyber, tudo bem? — perguntei.
Parecia que havia lixas em minha garganta.
— Estou voltando para a Sicília hoje mesmo — avisei, resoluto. — Não posso viver fugindo do meu destino.
Billy soluçou, enxugando os olhos com as costas das mãos.
— Então você está realmente terminando o que mal começamos… — disse ele, dessa vez não soando como uma pergunta, mas como uma constatação.
Balancei a cabeça, concordando.
— Estou — murmurei a contragosto.
Silêncio.
Ele fungou profundamente e concordou, esfregando o rosto uma última vez, parecendo cada vez mais lúcido após o baque de nossa discussão.
— Tudo bem — disse ele. — Vá se foder, então.
— Desde que você esteja seguro — murmurei, dando passos até a porta.
— VÁ SE FODER! — Ele gritou.
— Sai daqui, mano — disse Cyber, sério como uma pedra. — Vaza.
Silêncio.
Concordei.
— Não volte para a Sicília — ordenei para ele. — Eu vou sozinho.
— Vai tomar no cu — murmurou.
Encarei Billy uma última vez. Ele estava sentado na poltrona, bebendo da bebida colorida, olhando para a paisagem através da parede vítrea, tão sério quanto poderia estar.
Está tudo acabado, pensei. Agora posso mantê-lo seguro e arcar com as consequências do meu sumiço com a Alta Cúpula.
— Adeus, Billy — murmurei, deixando a sala.
Ele não me respondeu.
No estacionamento do Hades, avistei Romeo encostado em meu carro, em posse das chaves.
— Vai querer a minha ajuda ou não? — perguntou, erguendo uma sobrancelha. — Eu aceito ser seu conselheiro — revirou os olhos.
Olhei para o Hades pela última vez, tomando uma decisão.
Peguei as chaves de sua mão e indiquei para que entrasse no banco do passageiro. Se ele é o resto do qual posso usufruir, acho que devo me contentar em aceitar, foi o que pensei, sentando-me no banco do motorista. É o que o destino reservou para mim, no final das contas. Billy não é para mim.
Nem nunca será.
Imaginem se eu não tivesse descartado esse capítulo? Acho que nem casado eles teriam... ainda bem, hm?
Graças a Deus que não foi esse o capítulo verdadeiro, de sofrimento já basta nmdd e insane
Nem li o capítulo real da estória mesmo, mas já agradeço. Ainda bem que não foi esse aqui
Como eu odeio esse Ramon Mds
Eu quero muito matar o Romeo, quero fazer picadinho dessa poc mal amada .. que ódio
Agora sou a favor de vc nos presentear com uma morte bem lenta e dolorosa do Romeo pelas mãos do Billy! Meu ódio só aumentou por aquele inútil, isso aqui foi um surto coletivo! Credo!